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Castas de Uvas

CASTAS DE UVA

O Vinho Madeira é conhecido pelos seus vinhos varietais, que, ao longo do tempo, têm vindo a definir o estilo do vinho. Porém, após a sua descoberta, não existiam castas nativas na ilha da Madeira. Todas as castas foram trazidas do continente e plantadas pelos primeiros colonos que colonizaram a ilha, pouco tempo após a sua descoberta.

 

Os primeiros colonos plantaram uvas que eram comuns em Portugal Continental, com exceção de Malvasia (ou Malmsey) que eram originárias do Mediterrâneo (Creta). É por isso que podemos encontrar vinhos produzidos no continente utilizando as mesmas castas, embora vinificadas de forma diferente, e mostrando a influência do terroir onde são cultivadas.

HOJE EM DIA, O VINHO DA MADEIRA PODE SER FEITO A PARTIR DAS SEGUINTES CASTAS:

Tinta Negra

A Tinta Negra é considerada uma variedade nativa das Canárias e da Madeirra, onde (sob o nome de Tinta Negra Mole) já estava difundida no século XIX. Estudos de ADN mostram que essa variedade é identificada como “Molar”, uma antiga variedade andaluza, possivelmente de Cadiz, onde uma primeira referência foi feita em 1787. Portanto, é provável que o varietal tenha sido retirado de Andaluzia para as Canárias e Madeira, durante o século XVIII.

Após a Phylloxera, os produtores preferiram plantar mais desta uva robusta de pele negra, Tinta Negra Mole, em detrimento das uvas brancas, o que significa que hoje esta variedade é dominante na Madeira, representando entre 80% e 85% de todo o vinho produzido na Ilha. É predominantemente cultivada no norte da ilha, em São Vicente, e no sul, em Câmara de Lobos.

Verdelho

Verdelho pode ser encontrado desde o século XVII e foi, provavelmente, trazido do norte de Portugal Continental durante os primeiros dias de povoamento da ilha. Antes da chegada da filoxera Madeira em 1872, Verdelho representava aproximadamente dois terços das vinhas da Madeira.

Hoje é a variedade branca com a maior área (47 hectares) na Madeira, especialmente na costa norte, em vinhas localizadas na Ponta Delgada e em São Vicente, plantadas a altitudes até 100m de altura. Na costa sul, esta casta está localizada a altitudes superiores a 400 metros nos Prazeres e em Câmara de Lobos.

Esta casta requer solos profundos com algum grau de humidade. Tem baixos rendimentos por hectare e amadurecimento precoce. As uvas são normalmente colhidas até finais de setembro e produzem vinhos de cor dourada, de média secura e elegantes, com um carácter tropical e exótico.

A casta oferece cachos compactos e pequenos com alguns frutos silvestres. O mosto tem níveis moderados de açúcar e uma acidez acentuada. No Vinho Madeira, o Verdelho é sempre vinificado para produzir vinhos fortificados meio secos.

Bual

Bual, ou Boal como também é chamada na Madeira, é uma casta branca originária do continente português, tendo sido plantada no Douro e no Dão durante séculos, onde dá pelo nome de Malvasia Fina. Este nome varietal abrange não uma mas 16 castas em Portugal, como escreve Cincinnato da Costa em “O Portugal Viticola”. Em Wine Grapes (Robinson et al.), o viticultor Rolando Faustino sugere que é provavelmente do Douro, mas devido à sua grande diversidade genética nem o Dão nem a região de Lisboa podem ser descartados.

Na Madeira, Bual, com uma área total registada de vinha não superior a 20 hectares, é cultivada principalmente na costa sul da ilha, onde é mais solarenga e quente, uma vez que não tem um bom desempenho no lado norte, mais fresco e húmido.

Os melhores vinhos provêm de pequenas parcelas (poios) no Campanário, na Calheta, no Arco de Calheta e na Ponta do Pargo, a oeste do Funchal, situadas a altitudes entre 100m e 300m acima do nível do mar.

Esta variedade é bastante vigorosa e relativamente fácil de cultivar, apenas moderadamente suscetível ao oídio (Oidium) e à podridão do cacho botrytis. Tem uma floração tardia, o que lhe permite não estar tão exposta ao risco de geadas primaveris. Os seus cachos são grandes e amadurecem cedo.

No Vinho Madeira, graças à sua boa acidez que equilibra a doçura, Bual produz vinhos de corpo médio, de cor de cobre clara, de média doçura, intensamente perfumados, ricos em especiarias e frutos secos, e que atingem uma longevidade admirável.

Sercial

Esta é uma casta branca que provavelmente é originária da região de Bucelas, perto de Lisboa, onde é tradicionalmente cultivada sob o nome Esgana Cao (Dog Strangler), tendo sido introduzida na Madeira, onde lhe foi dado o nome de Sercial.

As vinhas estão localizadas tanto no lado norte como no lado sul da ilha. A sul, encontramo-la em altitudes elevadas no Jardim da Serra, acima do Estreito de Câmara de Lobos, entre 600m a 800m de altura. A norte, nas zonas do Porto Moniz, São Vicente e Seixal, em altitudes mais baixas, entre 150m a 200m.

Os cachos comerciais são de tamanho médio, de pele fina e os bagos são propensos a apodrecer. O Sercial tem uma maturação muito tardia e é resistente ao oídio e ao míldio, sendo normalmente a última casta a ser vindimada. Esta maturação lenta, resultado do terroir onde é cultivada, produz vinhos que raramente atingem mais de 11% de álcool antes da fortificação.

No Vinho Madeira, devido à sua natural acidez, picante e estaladiça, equilibrada pela sua ligeira doçura, o Sercial é sempre utilizado para produzir vinhos secos. Estes são de corpo leve e excecionalmente frescos, apresentando aromas intensos e vibrantes. O Sercial começa a sua vida de cor pálida, mas com o passar do tempo aprofunda-se e escurece até ao âmbar.

 

Não é apenas um extraordinário aperitivo ou vinho pós jantar (Colheita e Vintage), pois é o único Vinho Madeira que também pode, se jovem, ser apreciado ao longo de uma refeição.

Terrantez

Como a maioria das variedades da ilha, Terrantez foi trazida do norte de Portugal Continental, onde dá pelo nome de Folgasão. Durante muitos séculos, esta casta foi sempre utilizada na produção de vinhos premium, alcançando preços elevados no mercado.

Raras, as uvas Terrantez são brancas, de pele fina e extremamente frágeis. Os cachos e bagos compactos tornam-na propensa a botrítis e à divisão dos bagos. Os rendimentos são muito baixos e o amadurecimento é tardio.

Devido à sua natureza frágil, foi substituída por variedades mais prolíficas, tendo, por isso, sido quase extinta. Ultimamente, a família tem persuadido os cultivadores a trazer de volta os níveis de produção. Qualquer Terrantez Madeira é suficientemente raro para valer a pena tentar.

Malvasia (Malmsey)

Malmsey não deve ser visto como uma única casta (há tantas uvas diferentes chamadas Malvasia), mas sim como um estilo de vinho. Em “Uvas de Vinho” (Robinson et al.), os autores fazem este ponto afirmando que Malvasia é um nome genérico dado a uma vasta gama de variedades distintas de pele branca, rosada, cinzenta ou negra que partilham a capacidade de produzir vinhos doces e ricos em álcool. A área plantada é agora estável em cerca de 39 ha (96 acres).

A maior parte da Malvasia que cresce na Madeira é uma uva conhecida como Malvasia Branca de São Jorge, uma variedade de uva branca introduzida recentemente nos anos 70 na freguesia de São Jorge no distrito de Santana, no lado norte da ilha em altitudes mais baixas (150m – 200m). Os cachos são grandes e cónicos, e normalmente apresentam uma floração precoce e uma maturação tardia. As uvas são doces e produzem vinhos ricos e encorpados que são de cor escura. Na boca, o bouquet revela notas de especiarias e mel. Não tem qualquer relação com a premiada Malvasia Cândida, introduzida na Madeira no século XV, da qual existem atualmente apenas 3 hectares a crescer na Madeira, exclusivamente na costa sul.

Um Malmsey Madeira jovem é de cor dourada clara, enquanto que a Malmsey velha tem tonalidades de âmbar escuro. Rico, suave e luxuriante no paladar, mostrando notas complexas de moka, frutos secos e mel, notas de fruta tropical, caramelo e marmelada.